domingo, 29 de julho de 2012

as coisas, todas as coisas
mínimas e gigantescas
são coisas que eu não sei
quando vem o tempo
quando vem os anos
séculos, milênios
eras astrológicas

são as coisas que 
eu ainda não inventei
que se quebraram na infância
que o medo impede
que a covardia abriga
e o coração não dispara

coisas sem nome
coisas sem cores
coisas sem formas

além das coisas
inomináveis
das coisas sem sentido
sem espaço, sem termos
coisas vagas, sem rumo
absurdamente prolongadas
no abismo que separa
duas pessoas afins
mães de seus filhos
filhos de suas pátrias
dores, prazeres, necessidades

coisas sem ritmo
coisas sem lembranças
esquecidas, condicionadas
trancadas em gavetas
coisas não dizíveis
sufocadas, silenciadas
coisas da madrugada
coisas da insonia
coisas de pesadelos
coisas muitas e multiplicáveis
a todos os medos intangíveis
da morte, da finitude, do profano
do sexo, do sagrado, da dor

não sei das coisas
todas as coisas
que não me falam
que se sub entende
que se agonizam
que se chocam
que se maltratam

coisas feitas das sobras
coisas feitas dos restos
coisas feitas pela metade
coisas feitas pela raiva
coisas obrigatórias
coisas ingratas
chove a chuva intermitente 
diferente das chuvas torrenciais do verão 



o céu assombra com nuvens cinzas
as pessoas que passam 
e sei lá para onde vão 



eu fico comigo
apenas solidão 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

sexta-feira, 23 de março de 2012

sim, estou só
mas, ao menos
essa solidão me pertence 

até outro dia
quem eu era? 
onde estava? 

agora sei que estou só
e que estou aqui

sei que existem 
infinitas luzes acesas
na noite da cidade
e sorrisos, passos
e amantes felizes

aqui, no espaço de mim
encontro esse vão
que só a solidão 
permite ver

estou só, porém inteiro
e esse eu único 
me pertence 

não, mas isso não é
a felicidade, alguém me disse

pois bem, é esse o preço
que se paga pelo sossego 


quinta-feira, 15 de março de 2012

amargo


acabo de jogar no lixo reciclável
a embalagem que embrulhava
o chocolate amargo que você
me deu aquele dia
enquanto ainda éramos
alguma unidade
de sentido 
talvez


acho que o carinha
que vai separar o lixo
nunca comeu um 
chocolate amargo
ainda mais esse
que é meio caro, importado 
com uma altíssima
concentração de cacau 


será que ele iria gostar? 
talvez não, pois chocolates
amargos são difíceis 
de se gostar assim logo de cara...
é igual água tônica de quinino:
tem que dar algumas insistidas
consumir algumas vezes
construir o significado do sabor
como um refinamento
do que é se alimentar
não apenas para matar a fome
ou para sobreviver
mas com um ato de prazer 
como uma entrega tântrica
transcendental 


o carinha que vai pegar a embalagem
não deve nunca imaginar
que o chocolate amargo
não é apenas um doce
e sim um partilhar de momentos
talvez 


ele deve pensar que nós
somos todos medíocres...
ou ele deve sentir inveja? 
mas também pode
estar tão cansado
de tantas coisas
que, quiçá, não vai 
pensar em nada 
a não ser em sair 
correndo de todo mundo
que sempre o maltratou
de todo preconceito no
rosto das outras pessoas
das pessoas que presenteiam
seus amores com perfumes
com livros, com vinhos
com camisas, vestidos, gravatas
sapatos, colares, chocolates
carros, iates, viagens 
poemas


ou, pode estar tão ciente
daquilo que faz, tão concentrado
que a embalagem pode ser
um modo de meditação
e através dela ele nos verá
apenas como pessoas
que gostam de coisas
das quais ele não teve
a oportunidade de aprender
a gostar


no dia em que você
veio aqui e me deu 
esse chocolate eu pensei:
acho que encontrei
alguma coisa que havia
cogitado ter perdido 
para sempre
talvez 


assim como a embalagem
vai se transformar em 
outra coisa, eu 
já me transformei 


continuo gostando
de chocolates amargos
com altíssima concentração
de cacau, mas
também tenho agora
uma altíssima concentração
de auto estima 


mas, e o carinha? 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012



são claras minhas contrapartidas
mesmo que as vezes pareçam perdidas
imersas em desejos sem fim...

vida também é esboço
nada vem pronto e acabado
futuro é sonho, passado é fardo
e sofrimento é fato

mas há no meu peito uma fagulha
chispa teimosa que nunca se apaga
e dela emana alguma certeza
alguma beleza, sem palavra

é por isso que eu canto na tristeza
para que na alegria esteja
com o coração lavado 

domingo, 8 de janeiro de 2012

quando ainda é
apenas possibilidade
qual a necessidade
de abrir mão? 


mas, e depois
que já é fato? 
como, como
dizer não?