terça-feira, 31 de março de 2009

aquele que cultivava a vida
nos detalhes das coversas
e nas flores
foi levado
para um jardim
em outra dimensão ...

lá, sem endereço
pode amar seus sonhos
com muito mais
intensidade

quinta-feira, 26 de março de 2009

da minha janela o mundo é infinito
como as conexões
que me permitem ouvir
a music live from San Diego

identidades cruzadas
identificáveis ou não
com todo tipo de gesto
com todo tipo de gosto
nas fronteiras reais
e imaginárias

a foz do Iguaçu
é um amálgama de tudo
que ainda não fui
como um trânsito astrológico
retrógrado em meu
ascendente
porque é futuro
imerso em passado
porque é fato
misturado com uma ternura
e uma brandura
e que ao mesmo tempo
machuca meu coração

da minha janela
o mundo é restrito
até a esquina
e as copas das árvores
até os gritos de guerra
e a fanfarra do quartel

e a foz do Iguaçu perdura
ainda cambiante à praia
de outras fronteiras
do sul, do oeste seco
e esfumaçado

na verdade, sou fuligem
algo que se dissipa no ar
talvez como fagulhas
como sinais de satélite
como ondas supersônicas
superaltas, superin
e ao mesmo tempo
superout

terça-feira, 24 de março de 2009

somos covardes, na verdade
e vivemos necessidades
ilusórias

mas quem ou o que
pode fazer diferente?

ser anti-herói?
há!

já está tudo
descontruído
e reproduzido
em série:
como a face de Che
estampada
en las remeras
de los hermanos

mas há também
a face do outro
quase invisível

a nossa face moralista
no espelho
logo de manhã

a face opressora
da hipocrisia

tantas faces
irreconhecíveis

ser anti-herói?

todos somos covardes
e temos medo da morte!
somos trigos colhidos
da mesma colheita
farinha do mesmo saco
e achamos que sabemos
alguma coisa
quando, nem ao menos
tentamos entender
a parafernalha
em que vivemos...

riem por último
os vermes que nos corróem
riem por último e vitoriosos
os deuses ideológicos
que nos fazem marionetes
ri por último e triunfante
Baco com a cabeça de Apolo

domingo, 22 de março de 2009

o domingo é como um absoluto desprezo
o calor usurpa todas as forças
e as sinapses entram em colapso

ser humano dói

queria ser um gato
um grilo
uma ostra
ou outra coisa

capim
carrapicho
no descampado
próximo aos
trilhos do trem

isto não é um poema

girando a caneta
faz-se um rangido
como aqueles dos
balanços do
parquinho da estação...

isso era por volta de
1985...

e também o barulho
do portão de filetes
de ferro enferrujado...

meu coração
sozinho
range junto

terça-feira, 17 de março de 2009

aí estão as horas
do meu futuro
no beiral da janela

se as seguro comigo
elas se tornam passado
e morrem

se as deixo onde estão
elas despencam do alto
e morrem

ah! futuro esse
que não me pertence!

quarta-feira, 11 de março de 2009

full moon

luzes monocromáticas
cor de mercúrio
na cidade
acesa

intesa
noite iluminada
pelos postes todos
e pela lua cheia incandecente

tons sobre tons de sombras
equalizam-se no ar
no vértice das edificações
no arcabouço dos becos
sem saída

latas de lixo (reciláveis)
24 h até o amanhecer
quando o sol
ao horizonte infinito e lúcido
chegar

domingo, 8 de março de 2009

embreagado de sono
sou o trapo sujo
no beiral da janela:
todo o Mundo me deixa
alucinado, todas as Letras
todas as Músicas
e nada tenho
em meu final
de noite de domingo

até a endorfina
secou

até as ilosórias imagens
do céu entardecendo
parecem cenas
baratas de um
Teatro esquecido

mas, a vida prospera
em minúsculos gestos
no tom de voz do locutor
que pré-vê o tempo
no resto de chá
no bule
na consciência
que rompe o ciclo
da preguiça
e ativa
a piedade cristã
da culpa
em transfigurações
metafíscias
que jsutificam
o ócio
o consumo
o erotismo
o dia
seguinte

quinta-feira, 5 de março de 2009

na toca, no breu, no veludo do céu
atentos ao fogo áspero
que corrói as artérias
dos sonhos
redes de
pensamentos
sedentos
afins

colhe pra plantar depois
ao vento, ao cínico, ao mágico
máscara que separa
a face da verdade
mentira

aos farrapos, aos trapos
aos deus dará, aos destemidos
tudo quanto for
amontoados
descalços
sens qualquer coisa
sem fins

na praça, na lua
na fronteira, na esquina
na sombra, na supercífice
de tensão da água
na bolha, na pétala
na encruzilhada
no meio fio
na meia borda
na borda da linha
na agulha
na vertirgem
na ponta dos pés
na beira
do abismo

quarta-feira, 4 de março de 2009

apago a luz e deixo a casa
mas, para não deixar
tudo em silêncio
deixo o ventilador ligado

e a rua é tão íntima
tão quente
ao infinito aberta
(ou seria fechada?)

ouço uma t.v ligada
na casa com a porta
semi fechada
(ou seria
semi aberta?)

volto a minha casa
que havia ficado no escuro
com a porta fechada
e o ventilador ligado

encontro o retrato
da minha infância
sobre mesa
e quase não me vejo
( a casa está escura)

e na parede, já gasta
o futuro me espreita

o ventilador
ainda ligado
me avisa:

esqueceu a luz
apagada!

domingo, 1 de março de 2009

misturei os tons de vertigem da alma
nas tardes de céu colorido
e meu coração parou