terça-feira, 28 de abril de 2009

eu queria mesmo é embarcar em algum sonho
desses que a gente sonha e não quer parar
um sonho para além das fronteiras
do que geralmente se é sonhado

deixar de lado esse sonho morno
e ousar em um sonho louco
impetuoso e devastador
que me levasse
para outra dimensão

isso é sonhar é demais?
é sonhar acorado?
é um sonho de um sonhador?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

de tão pouco, de tão gasto
de tão alto, de tão ameno
de tão intenso, de tão simples
de tão complexo, de tão impune
de tão meramente acaso
de tão certamente destino
eu tive você
como um vício

de tão concreto, de tão absurdo
de tão ingrato, de tão sujo
de tão sublime, de tão impermeável
de tão baixo, de tão mesquinho
de tão pão com manteiga
de tão café com leite
de tão tal o quê
tal qual a invariável
da fórmula da física
eu tive você
como um vício

tão inexplicável
tão certo

tão largável pelos outros
tão só mais um e paro
tão cientificamente comprovado
tão congruente e respaldado
tão cálice de vinho santo
tão amor eterno
tão chama infinita
tão chão, tão céu
tão ...

e depois, tão assim
sem mais nem menos
tão tanto faz como fez
tão na secura das lágrimas
tão pós tempestade
você se desfez
como laço de fita
que embrulha o presente
e dentro caixa
tão mais viciante
encontrei a mim

domingo, 26 de abril de 2009

estou sozinho nos detalhes
o som da televisão
ameniza o silêncio
do apartamento

os cantos antes esquecidos
são lembrados como esperança
e o passado é vivificado
para que o presente
termine sua rotina
sem alardes

quarta-feira, 15 de abril de 2009

"...aconteceu de eu ser gente
e gente é outra alegria
diferente das estrelas" (terra - c.veloso)

poeta fingidor, aquela pessoa
aquele menino manifestado
em palavras que atenuam
a dor do ego

ah, poetas!

preferiria passar batido
o tempo rasgando
e eu contido
sem verso
sem crítica
sem rima
sem mundo
mesmo que seja vasto
ou minísculo
não é, raimundo?

mas existem as flores
das paineiras florescidas
na beira da pista
e elas me enchem os olhos
de um sentimento
infinito a degustar
sei lá onde ou porque

e agora, Alberto?

a vida cresceu, a festa
acabou de começar
a esperança transcendeu
e, por um instante
o sonho dura mais
que a realidade!

e agora, Alberto?
oh, pastor do rebanho
de pensamentos!
e agora que tudo
tem que tem
uma explicação?
com tipo aqueles
Freud e Jung e Lacan
tipo, assim
"me add"
nos livros de rosto?

o que faz sentido
na profusão inexgotável
e infinita de sentido?
hein, Caeiro entorpecido?

os celebratórios, pós.
convíctos da soberania
do dito sistema
neoliberal (capitalismo
com novo modelito)
inflam-se, inflam-nos
de banalidades
a consomir até
depois da última seia
e os críticos dissem:
Pessoa imperialista!

ah, poetas!

fingidor?
quem a sente
em realidade?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

é que assim sem mais nem menos
meu coração tende a algum lugar
inteiramente desconhecido em mim

um canto de um jardim seco
um céu em cinza chumbo
inseguramente covarde
tendencialmente frágil
reconhecidamente
hipócrita
aceitar nossas falhas
as internas e as externas
as que ferem o ego
e as que ferem o outro

reconhecer com elas
que somos menores
porém, humanos
substancialmente
incompletos
e imperfeitos

somos um restinho
de alguma sobra
do Destino
e nem por isso
deixamos de ser
inteiros nesses
fragmentos

ser bonito
(ou ser feio)

será sempre
uma construção
uma invenção
uma ficção
um romance

sábado, 4 de abril de 2009

por um momento
retornei ao meu quarto
de madeira
próximo a rua Lisboa
pelo sabor da fumaça
que exalei...

lá estive como estou agora
sem comensurar
moralidades

sendo as intrigas
que escorregam
pelas paredes
da memória

tendo as músicas
feitas aleatoriamente
como Verdades
como sensações
passadas, vagas
intuitivas
degradadas

como Blues de Boddy Guy