domingo, 20 de julho de 2008

dico tomias

pelas ruas, todas elas
de frondosas árvores
passeiam desigualdades
que parecem ser
mal vistas:
é o medo do outro
que toma conta
do que é mesmo Meu:
minha cesta de frutas
cítricas, meus repelentes
contra a insatisfação
minha blusa bordada
com linhas de fuga...

e, raramente
aquele menino
postado de indigente
irá me tocar
ele está lá
MAS eu
estou aqui

segunda-feira, 7 de julho de 2008

mostra-me a palma da tua mão, filho
quero saber do teu futuro
mostra-me o teu destino
traçado nas linhas do infinito
antes que o Verbo te cubra
e te re-defina em mil
pedaços novamente articulados
em tantas outras
narrativas imprevisíveis
mostra-me teus retalhos
feitos de novíssimas rugas
dessa pele que protege
a tua essência

deixe-me ver e re-ver
teus olhos cristalinos
ler e re-ler tua retina
antes que se retifiquem
que transmutem em
tantos outros sentidos
para além de qualquer
métrica possível
de ser escrita
em poesia

ah! dei-me o teu
tempo vivido, menino
os tempos das fotografias
da infância e da velhice
deixe-me contar-te
num romance auto-bigráfico
deixe-me narrar-te
nesse enrredo que se apresenta
nesse imenso presente
que é a tua vida

dá-me teu destino
as tuas horas de martírio
dá-me o teu sorriso
e tuas de horas de lucidez
o esboço do que é certo
na tua alma, na contra-luz
do teu instinto

ah! como quero prever-te
e prender-te nesse espaço-tempo
que acalenta por sabermos
o quanto somos nós mesmos
apenas eu e você
persona única
na história

mas a questão
sempre dolorida para mim
seu Ego com e maiúsculo
é que nos reinventamos
em inconstantes necessidades
em essencias refeitas
somadas e subtraídas
na fumaça dos dias
na umidade dos papéis
que borram o cortorno
da nossa personalidade...

és tão pueril
sou tão deslocado
que me calo
para ouvir-te

diz-me dessa tua idade
diz-me das aventuras
diz-me das paixões!

além de ti há o mundo
outros tantos agitados
outros tantos camuflados
outros ainda que nos esperam
talvez ao dobrarmos a esquina
talvez na desritmia da rotina
talvez nos sins e nos nãos
nessas incertezas
que nos preenchem de indecisões

mas vale aguardar-te
em voluptuosa transcedência
sim, pois Eu transcendo-te
apesar de relutares contra isso
doce menido feito de ilusão

mas não tema meu poder
de cumprir qualquer designação
viva o tempo corrido
do imenso presente
que é nossa vida
viva a ferida aberta
no teu coração
sangra a tua existência
em palavras, em versos
em atos, em revoluções
nos sonhos, no perdão
em todas a Amizades
feitas e re-feitas
és artefato dos teus feitos
antes mesmo dos nossos defeitos

fico aqui roendo a corda
bamba que nos sustenta
na ponte que leva
ao buraco negro
do inconsciênte
dessas mãos que agora escrevem
aparentemente livres
de qualquer obrigação moral
há por entre elas
um coração que bate
assim como há
um coração
por entre os olhos
de quem lê
essas palavras escritas

coração? coração?
mas o comando
não vem da mente?
podem perguntar os mais céticos

sim! o coração é a metáfora
assim como a mente...
dentre as palavras
entre entras, com elas
e jamais sem esses signos
que nos cercam

sábado, 5 de julho de 2008

a noite veio em mim
com o desejo sem fim
de poder encontrar em ti
subsídios para minha
felicidade...
imaginas?

como sou tolo
fraco, baixo
mesquinho
como sou ridículo
até mesmo por escrever
estas palavras

mas a noite veio em mim
e tua presença distante
me disse:
"eu também estou pensando em ti"
e aquilo ardeu no meu peito
no profundo silêncio da madrugada

claro que depois voltei
a minha identidade hipócrita
peguei o telefone e liguei
para qualquer pessoa
menos para ti
sabe-se lá se aquela hora
tão fria já, tão requiem
não estarias sonhando
com o teu futuro amor?
de qualquer forma
não quis atrapalhar...

agora penso em tantas coisas
que poderia ter dito
mas também não direi
nada aqui...
afinal, o que é o espaço-tempo
de um poema que escrevemos
quando não temos
a quem dizer
as coisas que queremos?

bom mesmo é voltar
o rumo da vida
para o dia que se inicia...
bom mesmo é acordar
depois de um pesadelo
e ver que a realidade
está repleta de sonhos...
bom mesmo é encarar os fatos
lavar o rosto com água fria
e encarar a rotina
que é o remédio da alma

quarta-feira, 2 de julho de 2008

identidades - convulsões da alteridade

"Eu chego a mim desde o Outro, sem poder parar em mim, na incessantetentativa de unir esta dispersão e dela explorar, a cada vez, a infinita abertura:como um trabalho incessante do luto e da hospitalidade do outro em mim e forade mim, que nunca termina, e que nunca termina de nos definir. Amiúde, nesseencontro emergem aparentes formas de não participação, uma oposição, um vaziode respostas que tornam a questionar radicalmente nossas próprias ficções, nossaspróprias máscaras de identidade"

(Mauro Maldonato)


não é em ti que te encontrará
como a máxima proclama

o Eu está no Outro
e nunca fadado ao fim...
o Outro está em em Mim
e sempre disposto

olha o teu rosto!
olha pro teu gesto
sente o teu gosto
e aí estará
a face
o gesto
o gosto
do Outro...

terça-feira, 1 de julho de 2008

"Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus — enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro" (Início do conto Pequenas Epifanias, do Caio Fernando Abreu)

PS: Com amarelo de Frida Kahlo
me entupo de mate logo pela manhã
que é para ficar bem lúcido
a toda agressão gratuita
a todo torpor desses pobres humanos
que não percebem a sua insignificância
e se debatem como minhocas envenedas
arde no peito o grito calado
de todos os nossos desejos reprimidos
desde de antes do nosso nascimento

aí, cometemos nossas mortes simbólicas
pequenos assassinatos do cotidiano
onde a discordância impera
como estatuto programado
para sempre acontecer
e é isso que queremos
que aconteça

a pergunta descenecessária
a resposta arbitrária
o sorriso irônico
o gesto estapafúldio

queremos o sangue do outro
a sua redenção ao nosso orgulho
a nossa Verdade Santa e Promíscua
ao nossa Vontade insana
de subjulgar, de explorar
de ver sofrer, de tirar proveito
de dizer:
Sim! Eu sou superior a você!
Por isso te escarro,
Por isso minha Razão
Tem a força de rasgar a tua pele
E expor seus nervos fracos
E seu sangue covarde

ah! Razão essa de tanto sofrimento...
quando poderíamos ter menos Razão
e muito mais entedimento