"hoje, eu quero a rosa mais linda que houver
quero a primeira estrela que vier
para enfeitar a noite do meu bem"
tenho estado comigo e resignado
nada, ou quase nada, me resta da
Lisboa frenética de Álvaro de Campos
pois, eu mesmo, nunca vivi em Lisboa
tanto faz, eu sei, para o Fernando Pessoa
mas, se tenho vivido mais calmo
isso não me faz ser menos vivo, pelo contrário
o que tenho feito é prestar mais atenção
em detalhes outrora ignorados e inofensivos
tenho observado o outono de perto
cada folha que cai da árvore à frente de minha janela
cada marca de expressão nas faces de quem até não conheço
cada gesto das pessoas que passam por mim na rua
assim, vou fortalecendo minha identidade
mesmo que seja para enfraquece-la depois
quando o inverno soprar minha cortina
e eu lembrar que já gostei muito de alguém
que não estará no quarto para me dar um abraço
pensando bem
eu moro em todas as Lisboas
que cantam comigo alguma canção
moro na rua sem nome
moro para o mundo me esquecer
ei, Pessoa, você nunca me esqueceu, não é mesmo?
pois eu tenho te esquecido em cima de uma geladeira vazia...
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