as coisas, todas as coisas
mínimas e gigantescas
são coisas que eu não sei
quando vem o tempo
quando vem os anos
séculos, milênios
eras astrológicas
são as coisas que
eu ainda não inventei
que se quebraram na infância
que o medo impede
que a covardia abriga
e o coração não dispara
coisas sem nome
coisas sem cores
coisas sem formas
além das coisas
inomináveis
das coisas sem sentido
sem espaço, sem termos
coisas vagas, sem rumo
absurdamente prolongadas
no abismo que separa
duas pessoas afins
mães de seus filhos
filhos de suas pátrias
dores, prazeres, necessidades
coisas sem ritmo
coisas sem lembranças
esquecidas, condicionadas
trancadas em gavetas
coisas não dizíveis
sufocadas, silenciadas
coisas da madrugada
coisas da insonia
coisas de pesadelos
coisas muitas e multiplicáveis
a todos os medos intangíveis
da morte, da finitude, do profano
do sexo, do sagrado, da dor
não sei das coisas
todas as coisas
que não me falam
que se sub entende
que se agonizam
que se chocam
que se maltratam
coisas feitas das sobras
coisas feitas dos restos
coisas feitas pela metade
coisas feitas pela raiva
coisas obrigatórias
coisas ingratas
domingo, 29 de julho de 2012
quinta-feira, 21 de junho de 2012
sexta-feira, 23 de março de 2012
sim, estou só
mas, ao menos
essa solidão me pertence
até outro dia
quem eu era?
onde estava?
agora sei que estou só
e que estou aqui
sei que existem
infinitas luzes acesas
na noite da cidade
e sorrisos, passos
e amantes felizes
aqui, no espaço de mim
encontro esse vão
que só a solidão
permite ver
estou só, porém inteiro
e esse eu único
me pertence
não, mas isso não é
a felicidade, alguém me disse
pois bem, é esse o preço
que se paga pelo sossego
quinta-feira, 15 de março de 2012
amargo
acabo de jogar no lixo reciclável
a embalagem que embrulhava
o chocolate amargo que você
me deu aquele dia
enquanto ainda éramos
alguma unidade
de sentido
talvez
acho que o carinha
que vai separar o lixo
nunca comeu um
chocolate amargo
ainda mais esse
que é meio caro, importado
com uma altíssima
concentração de cacau
será que ele iria gostar?
talvez não, pois chocolates
amargos são difíceis
de se gostar assim logo de cara...
é igual água tônica de quinino:
tem que dar algumas insistidas
consumir algumas vezes
construir o significado do sabor
como um refinamento
do que é se alimentar
não apenas para matar a fome
ou para sobreviver
mas com um ato de prazer
como uma entrega tântrica
transcendental
o carinha que vai pegar a embalagem
não deve nunca imaginar
que o chocolate amargo
não é apenas um doce
e sim um partilhar de momentos
talvez
ele deve pensar que nós
somos todos medíocres...
ou ele deve sentir inveja?
mas também pode
estar tão cansado
de tantas coisas
que, quiçá, não vai
pensar em nada
a não ser em sair
correndo de todo mundo
que sempre o maltratou
de todo preconceito no
rosto das outras pessoas
das pessoas que presenteiam
seus amores com perfumes
com livros, com vinhos
com camisas, vestidos, gravatas
sapatos, colares, chocolates
carros, iates, viagens
poemas
ou, pode estar tão ciente
daquilo que faz, tão concentrado
que a embalagem pode ser
um modo de meditação
e através dela ele nos verá
apenas como pessoas
que gostam de coisas
das quais ele não teve
a oportunidade de aprender
a gostar
no dia em que você
veio aqui e me deu
esse chocolate eu pensei:
acho que encontrei
alguma coisa que havia
cogitado ter perdido
para sempre
talvez
assim como a embalagem
vai se transformar em
outra coisa, eu
já me transformei
continuo gostando
de chocolates amargos
com altíssima concentração
de cacau, mas
também tenho agora
uma altíssima concentração
de auto estima
mas, e o carinha?
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
são claras minhas contrapartidas
mesmo que as vezes pareçam perdidas
imersas em desejos sem fim...
vida também é esboço
nada vem pronto e acabado
futuro é sonho, passado é fardo
e sofrimento é fato
mas há no meu peito uma fagulha
chispa teimosa que nunca se apaga
e dela emana alguma certeza
alguma beleza, sem palavra
é por isso que eu canto na tristeza
para que na alegria esteja
com o coração lavado
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