quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

fatigado,
com o ventilador ligado
largado na cama
além de mim
na tarde prolongada
até o fim ...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

desejar? ah, que desejo é fagulha
que morre no ar
ao deixar a fogueira

mas, o que dizer
ao espírito de fogo
que entorna o corpo
do folião?

"sabe-se lá o que Deus escreve, menino!
sabe-se lá... "
as mães sempre dizem...
mas o desejo retruca
e cobra seu preço:
rugas do corpo físico
dúvidas, desatinos

ah, que isso é tão igual
somos humanos sedentos
somos aquilo que queríamos ser
transcendentes, livres, brutos
somos frutos, árvores
glórias da dominação
de tudo que encontramos
para delírio dos poucos
dos inteligentes
dos magos, profetas e cientistas
dos políticos e governantes
reis, rainhas e bobos da corte
somos pedaços, fragmentos
da história do Universo

e o desejo? ah, é tão pequeno
é tão degustável
como um teco de chocolate
como um gole de vinho
como um beijo
como um abraço

sem isso, somos o que resta
de duro, de impenetrável
lágrima nos vales
serpente estimulante
das frutas no paraíso
sem isso, sem sorriso
sem palavra, sacrifício
somos os versos
imcompreensíveis

desejo cíclico
do poema de Drummond
desejo absurdo
de Álvaro de Campos
por tudo que ele não foi
e mesmo assim
sentiu

desejo de inocência perdida
como o sorvete
de domingo à noite
na sorveteria da infância
quando o máximo
da preocupação
era saber se nosso desenho
estava bonito

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

as vezes as coisas se tornam claras
como as tardes de antes
serenas dos outonos
quando caminhava nos trilhos
com o vento de frente
sem pensar que era tarde
para ser o que quisera ser

distante, o horizonte
se apresenta pleno
as nuvens se amontoam
e o sol se esconde
e lá, na linha infinita
tudo é tranquilo
sem pesares
meus sonhos flutuam

embalo na dança
dos capins crescidos
cardume em terra seca
vontades destemidas
de ultrapassar
os territórios

teu nome ainda intocado
o beijo ainda não roubado
e o tempo inclinado
para o oeste
e para sempre

domingo, 15 de fevereiro de 2009

17:17

claro, foi um reflexo
muito rápido
deixar-te em estado
de liberdade

ah, vagante tarde
em que aqui do alto
tudo parece calmo

sábado, 14 de fevereiro de 2009

de fato, sou humano entre tantos
retalho da colcha
miçanga do caleidoscópio
ópio, sangria
ardência, resignação

atmosfera intrínseca
aos veios dos córregos
sangas, profanidades
alusão à necessecidade
de conforto, segurança
alívio, suberversão
transitoridade

mate-me o que não me encaixa
mas, livre-me da ausência
do seu corpo e sorriso
traga-me, traga-me em
pequenos goles
engole, engole

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

(a)manhã depois da noite de hoje

complicado é viver o tempo como o tempo estipulado
para ser vivivo assim, na nossa vida sempre vivida
depois das sociedades tradicionais
hoje não!

temos tudo sempre agora
na mão!

mas, o que eu digo quando te encontrar?
"oi, tudo bem? vamos tomar alguma coisa juntos...
... tipo, um banho?"

ah, essas piadinhas! consequencias deliberadas
da minha infantilidade...
é como dormir esperando logo
(a)manhã que trará uma possibildiade (remota)
de estar presente no futuro
de modo que possa dizer "tchau"
com intimidade absurda
que vai parecer tão normal
e diremos -
"é só isso,
ufa, ainda bem!"

domingo, 8 de fevereiro de 2009

referencias cotidianas

Hun, retomo esse tópico das referências cotidianas, já que o Eduardo Giannetti me fez retomar sua leitura numa tarde de domingo, depois de eu pingar uma gota de um dos meus dois colírios para o tratar meus claros olhos.

O livro é "Auto-engano". Comprei-o logo que cheguei aqui em Foz, em uma ida no estilo "de quem não quer nada" à livraria do shopping. Fato é que me encantei com a leitura! (e depois a abandonei). Comecei a ler outras coisas e a não ler nada também durante um tempo. Na sequencia falo sobre outro livro ótimo!

A questão que o Eduardo nos coloca é essencial para nossa "natureza" (construída historicamente) humana e que dá título à obra: o auto-engano. Não o conhecia, ele é economista e sociólogo. A maneira como ele escreve é cativante e seu conhecimento sobre as mais variadas vertentes da intelectualidade é notável! \\o E o faz com um conhecimento de causa que o torna
um autor muito simpático e didático.

Como o auto-engano, tanto individual como coletivo, nos faz ser o que estamos sendo nesse mundo em intensa transformação? O que auto-engano tem de positivo e de negativo? Essas são as questões que fundamentam suas argumentações em grande estilo. E, pela página 52, depois de citar nosso amigo Fer (né Élice dos Istaites?) ele diz sobre a profissão de poeta:

"Como profissional so sonhar acordado, a missão do poeta não é acreditar no que sente, mas fazer-nos acreditar que sentimos o que não sentimos. Ou sentimos?"

Pois é...

Auto-engano. Eduardo Giannetti. São Paulo: Companhia das Letras, 2005
deixo uma fresta aberta
em meu coração
para que entre de mansinho
sem bater
apenas chegue
e se deite ao meu lado
sem dizer ou perguntar nada
sem alardes ou confusões
sou retalho ...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

"Se o poema é um objeto empírico e se a poesia é uma substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência concreta e a segunda não. Ou seja: o poema, depois de criado, existe per si, em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas a poesia só existe em outro ser: primariamente, naqueles onde ela se encrava e se manifesta de modo originário, oferecendo-se à percepção objetiva de qualquer indivíduo; secundariamente, no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta (ou não) objetivá-la num poema; terciariamente, no próprio poema resultante desse trabalho objetivador do indivíduo-poeta."

Pedro Lyra - Conceito de Poesia