terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

desejar? ah, que desejo é fagulha
que morre no ar
ao deixar a fogueira

mas, o que dizer
ao espírito de fogo
que entorna o corpo
do folião?

"sabe-se lá o que Deus escreve, menino!
sabe-se lá... "
as mães sempre dizem...
mas o desejo retruca
e cobra seu preço:
rugas do corpo físico
dúvidas, desatinos

ah, que isso é tão igual
somos humanos sedentos
somos aquilo que queríamos ser
transcendentes, livres, brutos
somos frutos, árvores
glórias da dominação
de tudo que encontramos
para delírio dos poucos
dos inteligentes
dos magos, profetas e cientistas
dos políticos e governantes
reis, rainhas e bobos da corte
somos pedaços, fragmentos
da história do Universo

e o desejo? ah, é tão pequeno
é tão degustável
como um teco de chocolate
como um gole de vinho
como um beijo
como um abraço

sem isso, somos o que resta
de duro, de impenetrável
lágrima nos vales
serpente estimulante
das frutas no paraíso
sem isso, sem sorriso
sem palavra, sacrifício
somos os versos
imcompreensíveis

desejo cíclico
do poema de Drummond
desejo absurdo
de Álvaro de Campos
por tudo que ele não foi
e mesmo assim
sentiu

desejo de inocência perdida
como o sorvete
de domingo à noite
na sorveteria da infância
quando o máximo
da preocupação
era saber se nosso desenho
estava bonito

Nenhum comentário: