segunda-feira, 31 de agosto de 2009
onde canta o sabiá
tem também arma de fogo
para matar quem é de cá
tem tráfico, assalto
contrabando
na mesma terra
em que as aves regorgeiam
os jovem anogizam
em poças de sangue
nessa terra, Pátria amada
de mãe gentil e pai violento
terras de além mar
são também as terras
de além túmulo
e as belezas "naturais"
agora bem neoliberais
se contrastam com a feiúra
de tal modo que a sinhá moça
também é a prostituta
minha terra tem palmeiras
mas também tem crimes
minha terra tem palmeiras
mas tem também corrupção
minha terra, Salve, Salve
Oh, Pátria amada
Idolatrada?
terça-feira, 25 de agosto de 2009
me deixe uma parte do seu sorriso
para que eu possa, no outro dia
juntar com uma parte do meu
e sorrir por inteiro
eu nem tenho, agora
muitas vontades
mas uma delas
é uma vontade de chorar
então, antes de sair
me deixe uma parte do seu abraço
para quem eu possa, amanhã
abraçar alguém por inteiro
ao juntar as partes
de nossos braços
e se possível, me deixe também
parte da sua esperança
daquela que temos
quando somos crianças
para que eu possa, nos dias que seguirão
continar sonhando sem medo
sorrir mais, chorar mais, abraçar mais
e amar, indefinidamente
todos os momentos do porvir
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
deveria chamar-se lacuna
a espera dos sentidos
que nos darão a vida
mas Virgínia trazia em si
as cantigas da infância
e cantava para seu amado
como quem canta
para si mesmo
o Destino não está lá
não está aqui
não existe
mas Virgínia decidiu
que como quem canta
também morre
que ela deveria morrer
e a dor não é fato
assim como não é Destino
nem desvio de caráter
a dor é a lacuna
da espera dos sentidos
e eles vem e vão
vem e vão
vem e vão
para frente e para trás
para frente e para trás
...
ad infinitum
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
terça-feira, 18 de agosto de 2009
e do teu coração brota alguma euforia
que misturada com as ruas vazias
nos permitem habitar os entre-espaços
não só do corpo, mas de alguma essência resgatada
que não é da realidade sensível...
pode ser que seja pelo momento astral
ou pela desventura dos caminhos
se não diametralmente opostos
ao menos paralelos
que até então não se tocavam
mas não existe uma tal teoria
de que as linhas paralelas
se encontram no infinito?
ilusão de óptica, acaso, destino?
definitivamente não importa
se nesses trâmites do amanhecer
estamos protegidos
dentro dessa nuvem de conexões
que nos trouxe até aqui
domingo, 16 de agosto de 2009
eu conheci o Chico na escola
a professora passou um trabalho
e tínhamos que pesquisar uma música
e, no meu grupo, era Açúcar Com Afeto
daí fomos à rádio ver se tinha
e o cara gravou pra gente
foi assim que eu conheci o Chico
depois, eu o esqueci por um tempo
mas Chico veio me constituir depois
já no colegial, aos poucos
suas músicas foram tomando forma
em meu imaginário
e o escutava nos percursos
entre Londrina e Adamantina
como se fosse sorver
alguma coisa que eu tinha vivido
sabe-se lá onde, quando e porque
hoje, confesso que gosto
também de Caetano
e de alguns outros
mas Chico, que um dia eu disse
“ele apenas sabe juntar as palavras
mas não sente o que escreve”
continua presente nos círculos
que formam as espirais
de minhas ficções da realidade
ou outra coisa parecida
que me remete a
Bernardo Soares ...
sábado, 15 de agosto de 2009
se a distância é algo imposto ou natural
se afasta porque teme um encontro
ou essa dúvida é apenas
uma dúvida de meu ego dilacerado
e, na realidade
escolhe por permacer assim
por livre e espontânea vontade?
ah, e há tanta diferença
nessas duas hipóteses
que modificam toda a ação...
se é meu ego ferido
que projeta uma ilusão
então, nada pode ser feito
mas, se a distância é fruto
de tantas outras opções
é também uma esperança
que canta baixinho no tempo
e que nos deixa na espreita
esperando, esperando, esperando...
domingo, 9 de agosto de 2009
que se comeve com a beleza e a tristeza
que se deixa caminhar pelos sonhos
de um mundo melhor
e de encontrar um amor
no labirinto de espelhos
ponha-me no lugar um coração de pedra
para que eu possa respirar sem culpa
e enfrentar sem dúvida
o batalhão de sentimentos
que por ventura possa
tomar conta de mim
retire esse coração que sangra
e ponha um coração de plástico
e ponha também uma válvula de escape
para que tudo aquilo que comove
se torne apenas mais um fato
de que resto não signifique nada
por favor, retire esse coração
que ainda tem esperança
e ponha um já vencido
já morto, já esquecido
um coração sem história
para que eu não sinta mais saudades
um coração que não bata
nem mais devagar, nem mais rápido
apenas bata no rítimo da normalidade
naquele rítimo formal e instituido
ah, por favor, dei-me um coração empalhado
que não se abale por ser humilhado
e não se alegre por ser reconhecido
um coração que tanto faz
que não chora, que não ri
que apenas observa impassível
e que diga, depois de tudo:
era só isso?
para celebrar a vida
que se entope de endorfina
para não sentir as dores
da imensa tortura
que impomos ao Planeta
a chuva oblíqua cai
trazendo alguma purificação
e um alarme de carro dispara
como uma bala de canhão:
nosso destino está traçado
vamos todos padecer
no abismo que cavamos
com nossos próprios pés
terça-feira, 4 de agosto de 2009
a um abismo profundo
em uma discórdia de mim mesmo
eu não sei! eu não sei!
bradam os vermes
que corróem o meu cérebro
e que me transformam
em trapo sujo
esquecido em algum canto
de uma casa abandonada
mas é fato saber
que sofrer é vida
e sorrir ao te ver
me faz questionar
porque ainda existo
estando fora de ti
ah, se eu soubesse
a tua cor favorita
se eu pudesse
te olhar dormindo
se me coubeçe
fazer-te feliz!
ah, que alívio seria
pois saberia ao menos
alguma coisa de mim