lava teu manto aqui, enquanto te amo
e amantes somos até o amanhecer
somos eu e você e a madrugada
ávidos por alguma coisa nova
que nem é mais sexo, nem ópio
nem é mais alguma revolução
nós já fomos revolucinados
e sabemos o que há por de trás do palco
deixa eu proferir em teu sonho
algo de concreto e que pese
pese mais que as penas dos pecados
mais que cruz dos cristos
quase chegando a ser a realidade
a densa realidade que nos comove
mas não vamos gritar, isso não...
sussurremos o veneno, assim devegar
lentamente, aos poucos, em conta gotas...
uma, duas, três...
ah, e você me espera embrulhado
no lençol que é seu manto
no canto da cama, no chão
e você me espera surrado
suado, em transe, em compaixão
e você me espera ainda morto
ainda no mesmo tom de voz
do mesmo modo e de novo
e sempre e para agora
não há pranto que nos comova
não há mais nada santo
nada que possa ser profano
já estamos religados
daqui para frente
não nos pertencemos mais
segunda-feira, 17 de maio de 2010
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