sexta-feira, 20 de junho de 2008

insignificante

boca suja dos restos
das carnes humanas
mastigadas
pela indolência
do mundo

do mundo?
Do mundo?

Ah! não é do mundo
a indolência é minha
é sua
é nossa
é daquele outro
ostentador das Verdades
e da Ganância
da Grana
da deslealdade
como se Deus
desse a eles e a nós
o Poder de Dizer
o que é Certo
e errado
o que é Branco
e preto
o que é Cristão
e herege
é o que é Hétero
e o que é homo

a quem queremos enganar?
Oh! santa ignorância
dos sábios insignificantes

nossas bocas com os restos
das carnes dos nossos escravos
do cotidiano, do consumo
da Lei cravada na garganta
que diz:
aqui não, violão!
Aqui é o espaço dos Bons
Dos Justos, dos Elevados
Dos Donos das Fábricas
Dos Donos da Esperança
Dos Donos da Vitória
Dos Bem Sucedidos
Dos Cavaleiros Patrícios
Dos Donos da Pátria!

Ai de quem invadir nosso espaço
Com a sua cor diferente
Com seu jeito e gestos diferentes
Com o Verbo diferente
Ai de quem não assumir
A Felicidade pela Imagem
Da Felicidade que se compra
Nos Hiper-Aglomerados
Ou mesmo que se compra
Na Micro-Loja de grife
De estirpe assassina

Restos de carne dos nossos escravos
Em nossas bocas sedentas
Por satisfazer nossos caprichos
Nossas Vaidades dementes
Nossos Vícios incontroláveis
Nosso Ego Superior
Eu! Eu! Eu é que sei o que é
Eu! Eu! Eu é que tenho razão
Eu sei por que Eu sofro
Eu tenho que ter o Amor
Do meu outro Eu
Eu tenho que ter
Não importa o outro, não
O que importa sou Eu!

Podemos fingir, podemos sim
Podemos nos fantasiar e sair
Mas cala essa tua boca
Insignificante!
Cala a tua boca suja de sangue
Cala a tua boca, camarada
Cala e vê se te olha
Cala-te boca e morre
Cala a tua latência que mata
Cala o teu sorriso falso
Cala o teu latim Altivo
Cala o teu sonho mesquinho
Cala o teu choro fingido
Cala o teu corpo em chamas
Cala a tua alma condenada
Cala o teu livre arbítrio
Cala a tua Vontade
Cala-te
Antes que seja tarde...

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