sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Amarei por amar o que me irrita
O Que me causa essa náusea
Amarei por amar seus tolos comentários
Essas pequenas imbecilidades

Amarei por amar seu vão de idéias
Toda sua futilidade
As pausas em seu raciocínio
Sua escassa criatividade
Amarei por amar, por vontade

Deixarei meu orgulho de lado
Pois vou amar seu comodismo
Toda sua deslealdade
Todo ócio que brota de sua face
Todas as palavras soltas, porém, simpáticas
Que profere com sua simplicidade

Amarei por amar seus vastos defeitos
Principalmente aqueles feitos
Sobre encomenda para seu nome
Amarei por amar seu sorrio falso
Suas histórias medíocres
Seus sentimentos baratos

Amarei, por fim, seu desprezo
Pelo meu amor
Sua pouca importância
Pela minha dor
Sua ignorância
Seja qual for

Amarei por amar
Simplesmente por amar
A incompreendida e desmedida vida
Que insiste em ficar
Alojada em seu coração

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Gosto de analisar os minutos
Que envolvem as horas
De abismos no cotidiano

O canto esquerdo escuro e sujo
Em que poeiras inócuas
Como estrelas frias e cósmicas
Confabulam uma revolução

A ordem da bagunça
Em que se encontram os pratos
Os talheres e os restos de comida
E guardanapos amontoados
Esgueirando a lixeira da pia

Os móveis mudos e simpáticos
Que sustentam o mundo
Os enfeites, os defeitos dos retratos
Os tratados dos livros
As ilusões da televisão

Gosto de olhar os ângulos inatingíveis
Localizá-los no ápice de uma fuga
Num milésimo de segundo
Que em breve deixa de existir
É sempre o devir da existência
Que se encontra fragmentado
Composto por entrepostos
De sombra, de luz, de sons minúsculos
Átomos atormentados de núcleos bêbados
Loucos elétrons desvairados no vácuo

Existir, assim, é quase um absurdo
E não existir é fato
Já que os comentários mais banais
Fixam os objetos nos seus lugares
Os sujeitos em seus nomes
A casa em um endereço
E o tempo no relógio

(auto)

Meu Deus! Esqueci quem sou eu!
E agora? Kant, me diz?
Estás aí, Platão?
Ão...ão...ão... (na caverna)
Já sei!
Farei um (auto) relato

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

há memórias demais
na minha cama desfeita
no vão entre o armário
e a parede
nos azulejos do banheiro

tudo ao meu redor
são imagens
de vidas passadas
as quais vivi
entre o sim e o não
no talvez da covardia

os nomes das coisas
de todas as coisas
são já conhecidos
e me resta lembra-los
enlatados, embutidos
nos cantos da casa
nos porões do
inconsciente

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

abro a porta e
não vejo a rua
não a vejo nua
não vejo a lua

fecho a porta e

não tenho cura!
O gato mia o desespero
De ser apenas gato
E ter de cumprir
Um claro destino:
Instinto!

para além

Ei! Levante a vela e navegue
Para além de ti mesmo
Ao horizonte infinito
Que não conhece
Nem medo, nem sofrimento

Deixe tuas memórias
De tristeza e fraqueza
No cais do esquecimento
E parta para além
Cabeça erguida
Sem orgulho ferido
Sem pedras no caminho

As verdade são poucas, marujo
O mar é infinito!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

diga XXXXXXXXXXXXXXXX
depois
nao diga mais
n a d a

tem um texto acima! :-D
os jovens atenienses
além de serem
todos muito atléticos
também eram
vegetarianos
e ávidos
por idéias
(alheias)
minha bexiga
está cheia
de idéias
e meu pulmão
cheio de ideologias!

nao ao domínio do coração
para os sentimentos!
nao ao domínio
do cérebro
para os pensametos!

isso, afinal de contas
é muito
little middle class
absurdo proeminente
lascas
raspas
digressões!

infinitas passagens
transcedentais
origames
de pesamento

eu sinto
logo...
desenhando os lápsos
sem necessidade
de margens
e s t i p u l a d a s

sorver a vida
em coisas afins...
aqui, alí, agora!

sem
p r e d i s p o s i ç õ e s
falhas e latejantes
percorrer todos
os r(ab)iscos

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Essa letra é do Marcel. De acordo com a postagem anterior. Somos poetas, nao nos interpretem ao pé da letra...rs...

Vou musicar a minha dor.
Vou transformar em voz e notas
o que me afasta do que eu sou...
Vou dedilhar em dor insana
as velhas cordas das lembranças.
E se num samba-choro eu chorar...ligue não...
Estou chorando a dor da vida...
vida que vem num descompasso...
vida que vem fora do tom.
E se meu pranto assim soar,
como um acorde em menor,
Vou saber que pra sambar
é preciso mais sofrer.
E no derradeiro verso da canção,
se a solidão insistir em acompanhar,
Sei que vou num canto,
com todo o cuidado e pranto,
do violão me desfazer.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

vou cantar a solidão
de quem não tem
nada pra perder
nem nada pra ganhar

vou ser assim
um jogador
à deus dará
ora mais pra cá
ora mais pra lá

no viés falso
da vida torta
na verdade
que conforta
o coração
dos poetas

vou cantar a solidão
fazer refrão
da minha dor
de sonhador

deixar morrer o tempo
ao léu, ao vento
abdicar da existência
do futuro amor

e quando não tiver nada
deitar feliz na calçada
e ser um completo
sofredor
depois de saber teu nome
teu endereço e teu rosto
me sobrou um desgosto
és tão comum quanto a rotina
e minha retina
cansou de olhar para ti

avessos

não importa muito quase nada
nem do lado certo
nem do lado errado

vale pouco suplicar
misericórdia
quase nada vale
se entregar

o que resta a fazer
é deixar o tempo
correr livre...

sem espera
sem esperança
sem lágrimas
sem sorrisos

o dia, a noite
anos e anos
as rugas
e o fim

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

o barulho do mar


Escuta! É o barulho do mar...
As ondas a se quebrarem próximas à praia
Escuta bem como esse som fala contigo
E me diz se o que ouves, então
Nao são vozes perfeitas

Ah! O barulho do mar ao final da tarde
Como é doce escutá-lo
Sentir o som em todo o corpo
A desvencilhar segregos tolos
Desmistificar problemas sórdidos
Trazer à tona os sentidos
Que haviam se perdido...

Próximos ao barulho do mar
Resta-nos pouco a dizer
A não ser desfrutá-lo
Deixar que nos toque o espírito
A tanto preso nessa armadilha
A que chamam paixão!

Agora, deixe-se levar pelo mar
Junto ao seu som
Para o fundo, para o fundo e mais além
E de longe, percebes um clarão acima
Mas é tarde, te diria
É tarde para voltar à superfície...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Pausa. Não sei se isto significa alguma coisa. Mas o tempo é sempre dois: memória e projeção. A linguagem é infinita. Posto que os versos são tempo e linguagem, o que isto significa? Uma infinita re-criação das horas que nunca existiram. Um exílio de significados. Mas, confesso que não tendo os versos, não teria também a vida. E o que é a vida, senão tempo e linguagem?
Se existo agora, sou penumbra
Brasa quase no fim
Adormeço para não morrer
Para calar-me e ter um não sentir

Apazigua-me o sono em seu início
Depois o peso dos sonhos
Me transforma em fumaça

Ah! Quanto desencanto
Pelas frias ruas de janeiro
Mesmo sendo verão
Mesmo a lua estando inteira

Espero o breve fim de meu sono
E quanto ainda terei de dormir
Para livre estar de meus sentimentos?

Aurora desesperada
Todas as horas malogradas
Sinto que assim vou ficar
Se assim continuar a sentir

deixa estar

Nós, os homens do amor romântico
Somos uns completos idiotas
E sofredores incorrigíveis...

E quando não temos
Aquilo que queremos
É que podemos cantar
Em conforto lascivo:
“Deixa estar...”

domingo, 17 de fevereiro de 2008

eu deixei uma carta para ti em cima da mesinha da sala. vê se lê com carinho. essa eu sei que tu vai ler, porque tá na porta do quarto. porém, a que está na mesinha da sala é mais importante. não vou adiantar o conteúdo. a curiosidade joga a meu favor. mas nao leia de qualquer forma nao. primeiro sente, respire e depois encare com gosto a leitura. poxa! nao vai rasgar antes de ler. eu pensei muito em cada palavra que escrevi. pensei no teu rosto coberto por aquela luminosidade branda que invade quarto no final da tarde. pensei principalmente no teu sorriso. por isso, são palavras de conforto, sabe? nada daquela obsessões depres de antes, aqueles paralelismos que nao levavam a lugar nenhum. eu procurei esclarecer algumas coisas, alguns desafetos. tu sabe que eu nao sou uma má pessoa, apenas a minha carência me desestabiliza. por isso, retrato naquelas palavras sentidos mais amenos para nossos desentendimentos. na verdade, eu nem sei porque nao escrevi aquela carta antes. se assim tivesse feito, talvez ainda poderíamos dar continuidade aos nossos compartilhamentos de desejos e sonhos. quem sabe isso ainda é possíve? bem, mas nao vou mais dizer nada aqui. leia a outra carta e depois, quando eu chegar, podemos conversar, se assim for de tua vontade. um beijo.
supiro na tua ausencia
desejo em latência
amor em potência
vontade

sábado, 16 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

[...]
Abram-me todas as janelas!
Arranquem-me todas as portas!
Puxem a casa toda para cima de mim!
Quero viver em liberdade no ar,
Quero ter gestos fora do meu corpo,
Quero correr como a chuva pelas paredes abaixo,
Quero ser pisado nas estradas largas como as pedras,
Quero ir, como as coisas pesadas, para o fundo dos mares,
Com um voluptuosidade que já está longe de mim!
[...]
Álvaro de Campos

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


[...]



Fui educado pela Imaginação,

Viajei pela mão dela sempre

Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,

E todos os dias tem essa janela por diante,

Todas as horas parecem minha dessa maneira.



[...]



Álvaro de Campos

observação latente


a luz é uma fresta da vida

três versos para enfrentar ressacas morais

Ao abrir os olhos e olhar no espelho
Aproveite o vácuo que se formará
Para melhor visualizar a consciência
E chegando perto do ego
Subtraia um sorriso e suplique
Nessa hora inspire três vezes

Saia andando pela casa
Como sorrateiro que está perdido:
“Ali deixei o livro que ontem estava lendo”
Mas não toque em nada
Impressões ilusórias são perigosas

Quando, por fim, chegar a sede
Levante a face e levemente
Incline-a para esquerda
Dê de si a própria imagem
E diga num sussurro:
Ahhh!

sujeito

Tendo agora minha voz silenciada
Passo a escutar os passos do tempo
Mas não tenho relógios a minha volta
Tenho apenas memória e sentimento
E temo o abismo obscuro
Das horas ausentes e profanas
Temo o tempo gasto para existir

Se fui outrora inocente
Hoje os interesses me moldam
Talhado que sou pelas imagens
Carregado pelas palavras
Transmutado em conceitos
Que no leito frio da história
Constituem-me sujeito

Assim, em paralelo e flanando
Passo os dias acorrentado
Em cotidianos retilíneos
Em amálgamas monocromáticos
Buscando o vão da transcendência

essencia

Poesias são como incensos
Aproveite-as enquanto
Soltam uma essência

Depois jogue as cinzas no lixo
Ou, para ser mais romântico
Lance-as ao vento
O que sobra depois de machucarmos alguém? As lágrimas em rostos opostos não me confortam, mas me causam vergonha e remorso. Não sei transcender de forma sublime meus sentimentos, e isto me faz ser menor. O que me salva, talvez me redime, são estas palavras. Uma tentativa, quiçá a única, de expressão daquilo que não se expressa. Se tenho causado transtornos em torno de minhas compulsividades, eles são efeitos de minha insatisfação e carência. Mas as palavras, estas sim, reconfortam minha existência. Mas o que dizer quando as traio e as utilizo para fabricar algum desalento? Pobre de mim.
é absurdo sentir tantas coisas
e não ter palavras
para expô-las

chega a ser um CRIME!
o sono pesa
em minhas pálbebras
e a loucura
é também
SENSATEZ

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

referências cotidianas

Ufa! Terminei minha dissertação. "Inventar é (re) existir: a produção de sentidos na constituição de professores educadores ambientais". Mestrado não é fácil. Mas depois, quando o texto está pronto em nossas mãos, é uma delícia. Eu recomento, mas em pequenas doses. Doutorado só depois! Mas, venho aqui para postar uma referência para o nosso cotidiano. Pensei em recomentar "A Metamorfose", do Kafka, pois até então EU nao havia lido. Mas, como MUITA gente já leu, eu vou falar de outra referência. Apesar de que, quem ainda não leu...

Bem, o negócio é o seguinte. Eu não concordo com a sociedade hegemônica que aí está, ou seja, não concordo com o CAPITALISMO e suas facetas, esse vírus que está acabando com a Terra. Apesar de muitos "celebratórios" decretarem o fim das coisas, e derrubarem tudo sem por nada no lugar, eu sou daqueles que vislumbra por um PRESENTE melhor. Claro que isso não se dá de um dia para o outro, e como penso (não só eu, pois essa idéia é do Boaventura) que toda crítica deve ser também (auto) crítica, sei que também há em minha subjetividade muitos reforços a esse modo de viver que promove tanta degradação. É inevitável, pois sou um sujeito histórico. Mas, nao me entrego. Por isso, é que recomendo um cara muito interessante: EDUARDO GALEANO. Ele nos fornece preciosos insights para, ao menos, refletirmos sobre a brutalidade em que vivemos, muitas vezes sem nos darmos conta disso. Além do que, ele faz isso com uma ironia muito inteligente, o que torna suas denúncias ainda mais ácidas.

É isso. Eduardo Galeano. Teatro do bem e do mal. L&PM, 2007.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

LÉTICAS ANTROPOFÁGICAS

Corre em minhas veias
Uma substância perplexa
Uma gosma apaixonada
Rubra e densa
Que contamina meu coração

E como centro do meu ser
Esse coração envenenado
Emana pela minha boca
Palavras dessassossegadas
Deliciosos devaneios insensatos
Pruridos corruptores
Das mentes fortes e fracas

E logo outro sangue
Assim contaminado
Verte naquele coração
As intenções desnecessárias
A anti-ética da lógica
O ácido corrosivo da certeza

E quanto mais e mais
Pessoas são infectadas
Mais as léticas se descabelam
Deixam de serem teses
Abandonam sínteses mesquinhas
Morrem engasgadas em antíteses

Nasce assim
A Era da Panlética

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

quase noite
o coelho nascia
na lua

quase meio dia
e na praia
o sol sorria
depois de algumas
lágrimas...

quase madrugada
e a chuva
encharcava
o carro

quase...
à Bel :-P
eu IA escrever
um poema
pra ti

mas quando vi
que você
não está
nem aí
RESISTI

domingo, 3 de fevereiro de 2008

pensei em escrever
um poema para ti
mas depois desisti

...

se eles estão aí
prontos para serem perfeitos
em suas razões e glórias
vou ficar só
em meus erros
em meus murros
em ponta de faca!

sabe-se lá depois
(caso haja depois)
se terão mesmo
tantas certezas
É de tudo isso que eu sinto saudades
De tudo que era pra ter sido e não foi
Da flor que não te dei
Do beijo que não te roubei
E das palavras
Todas que tinha a dizer
E não disse...
Não disse...

Mas olha, vou dizer uma coisa
Agora!
Não me faça mais sentir saudades
Não permita que meu coração
Vire uma pedra
Olhe pra mim
Com a força de teus olhos
E me faça ser
Sonho e sorriso

O que mais importa
Além dos sonhos
E dos sorrisos?

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Essa música tem tudo a ver com o Cassino hoje...

**chuva, suor e cerveja**

Não se perca de mim
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça
Não saia do meu lado
Segure o meu pierrot molhado
E vamos embolar
Ladeira abaixo
Acho que a chuva
Ajuda a gente a se ver
Venha, veja, deixa
Beija, seja
O que Deus quiser...

(Caetano Veloso) :-P

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

...

não há verdades
tudo não passa de interpretações
perspectivas, aliterações
inclusive achar
que não há verdades
já está aí
mais uma não verdade...

e se não há verdade
porque havia de haver mentiras?
não, não há!

deixem dizer os outros
todas as palavras
doces e amargas
e deixem também
em silêncio os que assim
preferem ficar

não há certo e errado
nem demência
nem sanidade

há sentimentos...
e como há!