quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Gosto de analisar os minutos
Que envolvem as horas
De abismos no cotidiano

O canto esquerdo escuro e sujo
Em que poeiras inócuas
Como estrelas frias e cósmicas
Confabulam uma revolução

A ordem da bagunça
Em que se encontram os pratos
Os talheres e os restos de comida
E guardanapos amontoados
Esgueirando a lixeira da pia

Os móveis mudos e simpáticos
Que sustentam o mundo
Os enfeites, os defeitos dos retratos
Os tratados dos livros
As ilusões da televisão

Gosto de olhar os ângulos inatingíveis
Localizá-los no ápice de uma fuga
Num milésimo de segundo
Que em breve deixa de existir
É sempre o devir da existência
Que se encontra fragmentado
Composto por entrepostos
De sombra, de luz, de sons minúsculos
Átomos atormentados de núcleos bêbados
Loucos elétrons desvairados no vácuo

Existir, assim, é quase um absurdo
E não existir é fato
Já que os comentários mais banais
Fixam os objetos nos seus lugares
Os sujeitos em seus nomes
A casa em um endereço
E o tempo no relógio

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