segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
do ano de dois mil e nove depois de cristo
descobri que vou morrer um dia
e que as pessoas que eu amo
irão morrer um dia
e que eu posso ficar cego
ou ter um infarto
por ser muito ancioso
e pressiono meus dentes
uns contra os outros...
descobri também
que sou muito frágil e tolo
e que fico esperando
o dia certo, o ano certo
o amor certo, a vida certa...
para que?
descobri que sou fraco
de caráter e de corpo
de mente e de espírito
sou fraco e mesquinho
aprisiono-me em um frasquinho
e, até então, achava que
estava tudo bem...
mas não, não está
o tempo cobra cada segundo
cada ruga, cada célula morta
cada alegria não vivida
cada não dito, cada palavrão
todo sentimento embrutecido
toda mágoa ancorada
todo ódio, todo tédio, todo nada...
hoje descobri que vou morrer
e posso já até ter morrido
e morri em minhas covardias
e matei em minhas omissões
sufoquei-me em delitos
cometidos contra o destino...
descobri que ser for
para ser assim o fim
não vale a pena o sacrifício
por isso, vou decidir nascer
olhar pro céu e sorrir
chorar para a beleza
de uma flor se eu a encontrar
descançar de toda confusão
de toda rotina gritada
de todo fato científico
de toda verdade comprovada
vou repousar minhas retinas
na linha do infinito
e gritar meu nome
para o universo ouvir
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
do bueiro, do buraco, do furo no muro
dos seres estranhos, dos seres místicos
das madalenas, das ladainhas
a poeisa é pó, é dó, é ré, mi, fa, fim
o último suspiro da paixão
o suspiro de bar amarelo
o ovo de codorna em conserva
o x-salada comido de madrugada
o beijo com bafo de cebola
a poesia é o oposto
da prosa lapidada
ela é o acaso que dá liga
na intriga, na briga, na vertigem
poesia é peixe fresco
embrulhado no jornal
é lata amassada de coca cola
que o catador cata com gosto
porque é grana no bolso
é bituca de cigarro
manchada de batom
é o tom do céu no por do sol
o som da sirene na madrugada
é fado grego enlatado
fita crepe que não cola
pedaço de cholate
esquecido no armário
leite estragado na geladeira
saco de farinha furado
transito parado
caos organizado
cosmos universal
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
de medo do futuro é que eu choro
daquilo que serei e ainda não fui
corro da verdade que martela
o cerne da minha consciencia:
sou um humano entre tantos
desvairados pelas ruas, pelos prédios
pelos becos da existência...
e não é covardia, não é não!
é que dói mesmo sentir o que sinto
dói saber que somos rarefeitos
que somos tão pequenos e mesquinhos
que nos machucamos
com tanta facilidade
dói sentir os paradoxos
saber que a vida é feita de ciclos
de nascimento, de morte
de ordem, de caos e de tudo mais
e dói porque desconforta
é uma lâmina que percorre
o nosso corpo e corta
a nossa carne e diz:
menino, você é homem!
você está sozinho agora
você é responsável
por todo o bem
e por todo o mal
que causa
eu corro é para mim mesmo
corro para minha vergonha
para meu egoísmo, para minha inveja
para o meu preconceito
corro pra me esconder na toca
na poesia, na prosa
corro da profecia, do carma
para a cegueira do espírito
ah, eu não sei ser mais
mas queria aprender a ser...
ser mais do que ainda não fui
ser outro sendo ainda
ser sempre, nunca sendo o fim
queria ser a cigarra que canta
e que amanhã vai embora
e que não chora por isso
apenas vai porque
cumpriu o seu ciclo
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
mesmo na chuva
mesmo na lama
na brasa, na fumaça
ele ama, ele chora
mas dança e sonha
e sorri para a lua
e deita na grama
e declama poesias
e canta
mesmo no frio, na neve
no maremoto, no terremoto
o ser humano se refaz
na dança, no grito
no labor, na esperança...
se somos felizes?
ah, somos o que somos
idenpendente do que dizem
que deveríamos ser...
ou somos exatamente
aquilo que nos cravam!
somos o avesso que deu certo
o erro que as vezes
passa batido e martela
o coração dos andarilhos
somos o paradoxo
damos a vida, damos a morte
damos o presente e a desgraça
somos a flecha e o alvo
e mesmo na boca do abismo
seguimos dançando
a dança dos aflitos
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
o que é trivial, o que todo mundo sabe
pela boca dos outros, ou por aquilo
que tu mostras ao mundo
ou seja, sei que não te conheço
mas conheço os traços do teu rosto
e os emblemas públicos do teu nome
fora isso, é imaginação, é supor
que nos daríamos bem e que
poderíamos tomar sorvete
no domigo a tarde ou que teu beijo
faria palpitar meu coração
e encheria de alegria o meu dia!
fora isso, é não te ter
nem de perto, nem de longe
nem bom dia, nem boa tarde, nem
boa noite
terça-feira, 10 de novembro de 2009
hoje em dia, a poesia é direta
sem metáforas ou metonímias
a poesia é feita de concreto
é também um política externa
não tem imagens mirabolantes
não tem rimas exatas
não tem versos, não tem estrofes
é quase uma prosa
dita do avesso, em regresso
a algum lugar que o dito poeta
não consegue chegar:
um labirinto de espelhos
a poesia hoje se faz na feira
na pereferia, no rap, no funk
na música pop e romântica
no programa de auditório
a poesia se faz por sí própria
elege um canto e se solidifica
como um sacrifício do cotidiano
a poesia é do menino de rua
da velha que cata lixo
do outro inferno que sou eu mesmo
da minha consciência egóica
do verme que me irrita e corrói
dos insetos que procriam
suas larvas em vasos
esquecidos no cemitério
a poesia é fruto em promoção
ela é quase mais do que pode ser
é tão banal, é tão utilitária:
um jargão
a poeisa hoje é migalha de pão
é arroz com feijão
escorre nas paredes
brota do chão
traduz o fato, no ato
sem perdão
poesia:
é a notícia
é a crônica
é o quadro
é discurso
são os pedaços
das pessoas
juntos
são as pessoas
em pedaços
separadas
são os afãs
de dizer não, sim
talvez, tanto faz, e daí?
poesia hoje é o que se comeu no almoço
e já se esqueceu na hora da janta
é tudo o que pode fazer sentido
ou aquilo que não faz sentido algum
enfim,
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
estava brincando na areia
olhei ao redor e me vi sozinho
onde foram aqueles
que me protegiam?
como uma criança faz
chorei assustado, é claro
e agora, o que seria de mim?
em instantes já estava
novamente em braços seguros...
mas e hoje, que sinto a mesma coisa?
vou berrar da minha janela?
vão me chamar de louco
me mandar calar a boca
chamar a polícia, o hospício
sei lá o que...
pois é, melhor é ficar quieto
escutando barulhos algures
que não me pertencem
respirando ofegante
pela incerteza do próximo minuto...
a existência toda
me pesa na boca do estômago
domingo, 1 de novembro de 2009
embrutecidos em retratos amarelados
esquecidos, solitários, vagantes ...
outro dia mesmo, ainda um sorriso
figurava sereno em meus braços
agora um castigo nos foi imposto:
perdemos a infância e a inocência
sem méritos, sigo o caminho do depois
os trilhos do ainda não, atravancados, rotos
as estradas em forquilhas, em foices
em palavras esparças que quase
nunca formam uma frase toda...
a liberdade? se um dia ela exisitir
poderei te contar algum segredo
poderei te beijar como o primeiro
beijo que a mãe ofecere ao filho
o beijo mais terno, mais puro, mais doce
por hora, resta o infinito
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
sábado, 17 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
e por fazer de mim um ser soberbo
que pensa que sabe das coisas ...
não, eu não sei
finjo em toda minha existencia
uma vital prepotência
uma lascividade promíscua
um orgulho de si por si
que no final das contas
só faz aumentar minha angústia
mas não tomem isso
como algo triste e profundo
não! é simples e tranquilo
o paradoxo da existência
humana
domingo, 4 de outubro de 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
vêm sendo cantadas pela poesia
desde de que a poesia existe
mas isso não basta
alguns humanos são tão esquecidos
são tão preguiçosos
tão mesquinhos, tão egoistas
que tanto faz se existe ou não
essencias ou poesias
existe um Eu redundante
um Eu superlativo
que grita, que esfola o Outro
que no final das contas
é um Eu também...
o mundo dos Eus feridos
dos Eus embrutecidos
esfarrapados, carcomidos
envaidecidos, glorificados
Amém
enfim, quase tudo se resume a isso
do mais, fica a impressão
de que chegamos mesmo
ao fundo do poço
mas é nesse fundo mesmo
que existe uma passagem secreta
e a senha é:
...
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
para que as águas movam o moinho
não quero ser correnteza nem corrente
para aprisionar seu coração
nem vou soprar o ar
para girar o catavento
não quero ser tempestade
muito menos brisa
para trazer você até mim
vou mesmo ficar parado
quieto, calado, sentado
esperando impassível
alias, só faço esse poema
para ter uma espera
com uma migalha
de esperança
sábado, 19 de setembro de 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
um livro de poesia do tio do meu pai
que estava se hospedando em casa
li algumas estrofes com desconfiança
não porque nunca tinha lido poesia
mas porque os versos do poeta
eram cotidianos, porém intrigantes
não havia rima, não eram quadras
muito menos poesia clássica
era uma prosa escrita em verso
mas que também não era prosa
era um misto de palavras do dia a dia
com uma expressividade máxima
que fazia de poesia o bêbado da rodoviária
e o poeta o chamava de bêbado
e isso me incomodava
eu, na verdade, inocente
estava julgando o poeta
assim como o poeta fazia do bêbado
andarilho, sei lá o que
uma crítica da socidade... talvez...
eu não li o livro todo
nem sei qual é o poeta, é claro
pois poucos poetas são lembrados
mas a imagem que sua poesia me causou
sempre me retorna:
o quarto, a cômoda, o tio do meu pai
e o andarilho bêbado
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
onde canta o sabiá
tem também arma de fogo
para matar quem é de cá
tem tráfico, assalto
contrabando
na mesma terra
em que as aves regorgeiam
os jovem anogizam
em poças de sangue
nessa terra, Pátria amada
de mãe gentil e pai violento
terras de além mar
são também as terras
de além túmulo
e as belezas "naturais"
agora bem neoliberais
se contrastam com a feiúra
de tal modo que a sinhá moça
também é a prostituta
minha terra tem palmeiras
mas também tem crimes
minha terra tem palmeiras
mas tem também corrupção
minha terra, Salve, Salve
Oh, Pátria amada
Idolatrada?
terça-feira, 25 de agosto de 2009
me deixe uma parte do seu sorriso
para que eu possa, no outro dia
juntar com uma parte do meu
e sorrir por inteiro
eu nem tenho, agora
muitas vontades
mas uma delas
é uma vontade de chorar
então, antes de sair
me deixe uma parte do seu abraço
para quem eu possa, amanhã
abraçar alguém por inteiro
ao juntar as partes
de nossos braços
e se possível, me deixe também
parte da sua esperança
daquela que temos
quando somos crianças
para que eu possa, nos dias que seguirão
continar sonhando sem medo
sorrir mais, chorar mais, abraçar mais
e amar, indefinidamente
todos os momentos do porvir
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
deveria chamar-se lacuna
a espera dos sentidos
que nos darão a vida
mas Virgínia trazia em si
as cantigas da infância
e cantava para seu amado
como quem canta
para si mesmo
o Destino não está lá
não está aqui
não existe
mas Virgínia decidiu
que como quem canta
também morre
que ela deveria morrer
e a dor não é fato
assim como não é Destino
nem desvio de caráter
a dor é a lacuna
da espera dos sentidos
e eles vem e vão
vem e vão
vem e vão
para frente e para trás
para frente e para trás
...
ad infinitum
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
terça-feira, 18 de agosto de 2009
e do teu coração brota alguma euforia
que misturada com as ruas vazias
nos permitem habitar os entre-espaços
não só do corpo, mas de alguma essência resgatada
que não é da realidade sensível...
pode ser que seja pelo momento astral
ou pela desventura dos caminhos
se não diametralmente opostos
ao menos paralelos
que até então não se tocavam
mas não existe uma tal teoria
de que as linhas paralelas
se encontram no infinito?
ilusão de óptica, acaso, destino?
definitivamente não importa
se nesses trâmites do amanhecer
estamos protegidos
dentro dessa nuvem de conexões
que nos trouxe até aqui
domingo, 16 de agosto de 2009
eu conheci o Chico na escola
a professora passou um trabalho
e tínhamos que pesquisar uma música
e, no meu grupo, era Açúcar Com Afeto
daí fomos à rádio ver se tinha
e o cara gravou pra gente
foi assim que eu conheci o Chico
depois, eu o esqueci por um tempo
mas Chico veio me constituir depois
já no colegial, aos poucos
suas músicas foram tomando forma
em meu imaginário
e o escutava nos percursos
entre Londrina e Adamantina
como se fosse sorver
alguma coisa que eu tinha vivido
sabe-se lá onde, quando e porque
hoje, confesso que gosto
também de Caetano
e de alguns outros
mas Chico, que um dia eu disse
“ele apenas sabe juntar as palavras
mas não sente o que escreve”
continua presente nos círculos
que formam as espirais
de minhas ficções da realidade
ou outra coisa parecida
que me remete a
Bernardo Soares ...
sábado, 15 de agosto de 2009
se a distância é algo imposto ou natural
se afasta porque teme um encontro
ou essa dúvida é apenas
uma dúvida de meu ego dilacerado
e, na realidade
escolhe por permacer assim
por livre e espontânea vontade?
ah, e há tanta diferença
nessas duas hipóteses
que modificam toda a ação...
se é meu ego ferido
que projeta uma ilusão
então, nada pode ser feito
mas, se a distância é fruto
de tantas outras opções
é também uma esperança
que canta baixinho no tempo
e que nos deixa na espreita
esperando, esperando, esperando...
domingo, 9 de agosto de 2009
que se comeve com a beleza e a tristeza
que se deixa caminhar pelos sonhos
de um mundo melhor
e de encontrar um amor
no labirinto de espelhos
ponha-me no lugar um coração de pedra
para que eu possa respirar sem culpa
e enfrentar sem dúvida
o batalhão de sentimentos
que por ventura possa
tomar conta de mim
retire esse coração que sangra
e ponha um coração de plástico
e ponha também uma válvula de escape
para que tudo aquilo que comove
se torne apenas mais um fato
de que resto não signifique nada
por favor, retire esse coração
que ainda tem esperança
e ponha um já vencido
já morto, já esquecido
um coração sem história
para que eu não sinta mais saudades
um coração que não bata
nem mais devagar, nem mais rápido
apenas bata no rítimo da normalidade
naquele rítimo formal e instituido
ah, por favor, dei-me um coração empalhado
que não se abale por ser humilhado
e não se alegre por ser reconhecido
um coração que tanto faz
que não chora, que não ri
que apenas observa impassível
e que diga, depois de tudo:
era só isso?
para celebrar a vida
que se entope de endorfina
para não sentir as dores
da imensa tortura
que impomos ao Planeta
a chuva oblíqua cai
trazendo alguma purificação
e um alarme de carro dispara
como uma bala de canhão:
nosso destino está traçado
vamos todos padecer
no abismo que cavamos
com nossos próprios pés
terça-feira, 4 de agosto de 2009
a um abismo profundo
em uma discórdia de mim mesmo
eu não sei! eu não sei!
bradam os vermes
que corróem o meu cérebro
e que me transformam
em trapo sujo
esquecido em algum canto
de uma casa abandonada
mas é fato saber
que sofrer é vida
e sorrir ao te ver
me faz questionar
porque ainda existo
estando fora de ti
ah, se eu soubesse
a tua cor favorita
se eu pudesse
te olhar dormindo
se me coubeçe
fazer-te feliz!
ah, que alívio seria
pois saberia ao menos
alguma coisa de mim
segunda-feira, 27 de julho de 2009
proteção da divindade
como água morna
para chá de camomila
e me ilumina
com teu sorriso
com tua paciência
com teu hálito
de pasta de dente
prende meu coração
com sua coragem
pinta no meu peito
uma tatuagem
que diz para todos
e para ninguém
o quanto somos
felizes por termos
descoberto no deserto
um girasol lilás
domingo, 26 de julho de 2009
esse fiapo de manga no meio do dente
essa pedrinha pontiguda do sapato
que o bom vento do oeste
leve consigo essa pena
essa alma penada
esse carma intruso
ignorância amaldiçoada
e que soem os clarins
limpos, tranquinhos, serenos
sem grunidinhos de concordância
sem ânsia, sem ego
sem prepotência
sem arrogância
amem
com o outro
porque somos
bolhas de mundividência ...
ah, lá está a história
que marca os gestos
do indivíduo
minúsculo e recalcado
trouxa, otário
o diabo a quatro
depois, é sempre o tom
do desejo de si
que se permuta
e invade os cantos
concretos
do cotidiano:
do it, do that!
ha ha ha ha
ha ha ha ha
mas que haverá que se haver
com a Transcendência
isso haverá!
(em homenagem a ignorância incontida)
domingo, 12 de julho de 2009
as ruas da minha infância
são o locus da unidade
na feira do pátio da estação
depois da missa na matriz
esperando a vida
com o sol adentrando
as folhas miúdas das árvores
e criando feixes eternos
de luminosidade em minha face ...
realidade protegida?
que importa
se os dias são claros
e o amor é infinito?
ah, que importa
se é uma esperança
entre tantas tormentas?
terça-feira, 7 de julho de 2009
um outro jeito de viver a vida
com muito menos julgamentos e críticas
com muito mais prazer e simplicidade
claro que os probelmas existem
(e o que seria de nós sem eles?!)
mas viver também é experimentar
aceitar, bem dizer, perdoar
relevar, insinuar sorrisos
chorar quetinho, calar
ao invés de chingar
o que o outro nos mostra
é também a nossa face
vivemos mesmo é na interface
relação, rede, colcha de retalhos
mosaico, caleidoscópio de imagens
por que você não tenta também?
domingo, 5 de julho de 2009
mas o que lhe ocorreu
foi fazer um poema
e daí?
nada pára na vida
para que algo aconteça
tudo acontece independete de
as coisas continuam
se concluindo, mas a conclusão
é um início
e daí?
e haverá sempre
novas descorbetas
aquele livro essencial
aquela idéia magnífica
teses, tratados
carnavais e misérias
guerras e festas
bombas atômicas
e balas de festim
e daí?
pois é, alguém
tudo é para agora
ao mesmo tempo
sem ontem, sem amanhã
amálgama que arde
todas nossas máscaras
representando um papel:
"ufa! somos civilizados!"
e daí?
que se dane, né?
nem é comigo
nem é contigo
nem é com ninguém
hã?
que se dane a lata de lixo
que jogamos
nossa vida
os carinhas vão vir buscar
e levar sabe-se lá
para onde
foda-se o mundo!
e daí?
sentido? uai, que sentido?
transcendência? o que?
o Outro? hã?
um bando de filhas da puta!
o que tenho a ver com você?
minha imagem no espelho
um pouco embaçada
mas e daí?
esses caras que acham
que sabem alguma coisa...
tudo bicha! tudo um monte de merda
o que eles dizem!
e daí? vai tomar cú, filha da puta!
o mundo continua
apesar de
e com quanto que ache
que é isso mesmo
será isso mesmo
e daí?
domingo, 28 de junho de 2009
sábado, 27 de junho de 2009
além de todos os mundos
uma substância fluída
o entrelaça, encarapaça-o
e o desnuda
e ele escreve:
"oh, Ventre de minha Mãe
Terra profana e ingrata
que me aprisiona
dai-me o Universo
e serei Livre!"
e ainda, continuamente
apodera-se dele um transe
intransigente
que o dilacera de seu Ego
e o re-descobre em
fragmentos
pedacinhos
de vidro
miçangas
um ladrilho
do mosaico
mas mantém
enfim
sua Identidade
sábado, 20 de junho de 2009
pois ainda não te vi
e teus olhos ainda não me viram
e nossos corações
ainda não se reconheceram
a love song de nossos dias
ainda não toca no rádio
não passa na televisão
e nem temos nada
nem um apelido
nem um toque polifônico
que nos identifique
na chamada do celular
e, afinal de contas
isso é preciso?
quantos amantes agora
não dariam tudo
para não amarem?
quantas paixões
nesse momento
foram abortadas
deixando feridos
eternernamente
os corações?
ah, que o amor romântico
é uma tolice!
ou, é uma dávida
só que do avesso
e o avesso
é a frente
do oposto
o oposto
é o lado
certo do
avesso
e eu com isso?
sexta-feira, 19 de junho de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Sou um técnico, mas só tenho técnica dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo direito a sê-lo.
Com todo direto a sê-lo, ouviram
..."
(Lisbon Revisited - Álvaro de Campos)
Temos toda a tecnologia, toda a parafernalha
Para a busca de destroços, carcaças, fragmentos, retalhos
Temos um passado Moderno, Iluminista, Científico
Um presente Tecnológico, Tecnocrata, Informático
Temos as ferramentas para o Ego
Bem postas, bem expostas, fálicas, proeminentes
Que nos mantém com os pés fincados
Em nossos Territórios defendidos
pelo Terror e pelo Medo:
Oh, Pátria, Salve, Salve
Teus filhos tão gentis!
Teus filhos, mas não tuas prostitutas?
Teus homens, mas e tuas mulheres?
E as tuas terceiras opções?
Hoje temos a segurança
De não termos certezas
Nem pelo mais sábio dos engenheiros
Medicado, deprimido, analisado
Nas consultas com o mais sábio psicólogo
Temos as armas, os aparatos
Os sistemas funcionando
As bolsas de valores
Os automóveis supremos
Os aviões infalíveis
A liberdade de imprensa
A democracia de fachada
A ditadura do consumo
Mas do que vale a técnica
E suas decorrências
Se o sentido se perdeu?
Ou nunca existiu?
Sentido em ser humano?
Quando e onde nos tornamos?
Que ladainha infantil!
Quanto romantismo!
O melhor é sermos o que somos
Com nossas identidades programadas
Sufucados em nossa saliva
Em nosso vômito de grandeza
Sustentando nossos desejos
Vontades de poder, óh Ego!
Sim! Sou Eu, Eu sei, Eu posso, Eu devo...
O mundo dominado pelo Eu
e pela Tecnologia!
Ah, parabéns aos Homens de fé!
Aos desbravadores do Novo Mundo
Da Nova Galáxia, do Universo!
Um viva para os Navegadores,
Para os Austronautas
Para os Presidentes
Para a Academia Real da Ciência!
Bravo! Vamos celebrar o mundo
dos Homens da Verdade, da Justiça
da Puta Que Pariu!
E Deus, sempre Masculino e Imponente
Onipresente, Onipotente, que nos abençoe!
Do mais, contiaremos tomando
Venenos, comendo agrotóxicos
Instalando alarmes, explorando
os Recursos naturais
Consumindo, consumindo, consumindo
Escravizando os fracos
Chorando o leite derramado
e cantanto...
Pois até os porcos
precisam de arte!